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ENTRE O CÉU E O INFERNO DO RAP NACIONAL - RESISTÊNCIA E PARADOXO

sexta-feira, maio 25, 2018


FATOS DA SEMANA:



O Rap Nacional atravessa momentos onde nunca antes essa palavra foi um elo: PARADOXO.


Isso porque, até umas duas década atrás,  a cultura Hip Hop era fundamentada em seus 4 pilares: DJ, MC, Break e Graffiti. O conhecimento e respeito perante a cultura era o que interligava esses 4 elementos, que se baseavam em noções de boas práticas como desenvolver a transformação no meio em que viviam os agentes dessa cultura, até então marginalizada, mas que também carregava uma resistência, atitude, poesia e defendia a cidadania e o estado de direito. Sim, amigos, talvez muitos não saibam, mas isso é o Hip Hop. O Rap é um gênero musical caçula, se for comparado ao samba e ao jazz, por exemplo. Mas sempre teve o mesmo espírito de vanguarda.

De uns 10 anos para cá, com o advento das redes sociais, que a princípio foi uma grande ferramenta de expansão e de livre acesso à cultura, o Hip Hop foi tocado com mãos mais direcionadas para o público, que até então só tinha acesso aos conteúdos e filosofias através de discos e bibliografias indicativas nas letras dos MCs que, por sua vez, eram os baluartes da informação e do conhecimento, funcionava em suas rimas uma espécie antena que sintonizava o público sobre os fatos e opiniões relacionadas aos mais diversos assuntos da esfera social, principalmente, nas periferias, onde o acesso à informação e ao conhecimento regular não era amplamente consumido. Quantos adeptos do Hip Hop viviam a resistência ao entender a filosofia de Luther King e Malcolm X através das letras de Rap? Com o advento das redes, a sociedade vem tomando formas polarizadas e cada vez mais intolerantes, quando o assunto é gênero, raça, credo e preferência política. E assim seguimos em meio ao radicalismo.

O que acontece é que o impulsionamento das redes sociais teria dado luz ao Rap, muito mais do que aos demais elementos, aos poucos, sem muito avanço, o Hip Hop vem se distanciando do Rap na mesma medida em que se populariza entre os jovens. O que também acontece é que a maioria dos artistas e produtores que se dizem detentores de uma cultura, muitas vezes não dão a mesma visibilidade aos demais elementos. O MC ganhou uma projeção nunca antes vista, quase de um patriciado. Se em 2005 a onda era batalha de DJs e o início das rodas culturais, em 2015 os lançamentos e as produções audiovisuais ganharam muito mais qualidade de sonorização, audiovisual e disseminação. Mas o que ficou faltando? Ética e Conteúdo.

A busca incessante pelo Rap Game ganhou forma e, em pouco tempo, os MCs que eram referência para os mais novos caem no esquecimento e são atropelados por uma geração que nem sequer ouviu falar deles, que preferem o MC (artista) do que o Rap (mensagem). Sabemos que o poder de mudança social do Hip Hop é indelével. Mas muitos estão aí pelo jogo e se, para isso tiverem que apagar a história e se intitularem “a melhor banda dos últimos tempos da última semana” - parafraseando Titãs - eles o farão.

Já não cabe no Rap Game a crítica social ou política nas letras, simplesmente porque o Rap Nacional está cada vez mais partidário e politizado, mas na questão social, não. O compromisso do Rap é cada vez mais uma questão política interna de sua banca seu grupo, seu clã mesmo. O marketing político aliado ao social media, o round do dinheiro, dos likes em milhões de views à projeção em shows ganhou proporções astronômicas, o que pode ter deixado o estudo, a visão de mundo e os valores da grande maioria dos novos MCs em segundo plano e gerar controvérsias por seus discursos rasos, ofensivos, com rimas fracas e de gosto duvidoso. Ou que seja proposital toda essa mácula no Rap, qualquer motivo é igualmente entristecedor e absurdamente vazio. Outros líderes já defendem que Rap nada mais é do que Ritmo e Poesia, não importando o conteúdo lírico.

Atualmente está sendo traçado um paradoxo abissal entre defender ideias totalmente machistas, imorais, violentas e ofensivas nas letras e, quando confrontados, o discurso em justificar o indefensável, ser contrário ao que eles juram defender. Isso deve ser o estopim para tantos casos de grande repercussão a respeito da postura e do nível lírico de alguns MCs. Nunca se sabe se o que eles pregam está entre o absurdo ou o marketing, tiro que sai pela culatra que acaba rendendo mídia e vendendo shows.

Quando vemos uma menina de 16 anos em seu discurso de branca periférica, afirmando que branco e preto estão nivelados e que “o preço já foi pago”, quando faz referência à Jesus crucificado, isso é reflexo brutal de que a maioria dos jovens de hoje só sabe advogar em causa própria. A jovem NaBrisa sofreu milhares de críticas dos internautas por conta de sua letra com discurso racista, ainda que muitos digam que foi inofensivo. Seja com racismo ou xenofobia, “ela não sabia, não teve a intenção”. E pronto, justificado. Confira o trecho:





Vivemos tempos de apropriação cultural e verborragia no Rap. Não é exagero. Mal passou esse discurso indigesto, outro MC deflagra uma letra onde se interpreta automaticamente a cultura do estupro. Trata-se do trecho da música “Preguiça” – Xamã feat. Costa Gold. Muito além disso, de tentar justificar que ele “jamais teve intenção” de cultuar o crime de estupro (como se a letra falasse de um simples ato sexual), outros MCs até mais antigos e fãs vieram em sua pronta defesa. Seria possível constatar que essa comoção a favor do MC, que justifica que tem mãe, mulher, família, que respeita as mulheres no geral, chegar a ter esse discurso como defensável? Pior ainda, que a banalização do estupro seria um espelho do que ele vê socialmente, que isso está enraizado na cultura machista? Paradoxo quase beirando a hipocrisia. Os integrantes da velha escola estão se contorcendo por causa dessa molecada e com razão. Estaria instaurado o caos no Rap?

(Nog)
“Agora olha só como eu virei perigoso
Xamã com Costa Gold nesse beat loco
Tira o sono
Deixa ela dormir que se ela vira, eu como
Boto o cano na goela e atiro gozo”




Seria tão mais simples voltarmos à realidade, de percebermos a importância e a dimensão que tem o poder de militância em uma música, uma letra, a grandeza que tem um artista, que ele querendo ou não, influencia sim muitos jovens e a maioria do público é feminino, mesmo que o Rap ainda viva um patriarcado. Não adianta afirmar o contrário que isso é discurso underground, porque não tem nem 15 dias que o rapper americano lançou o clipe de “This Is America” do Childish Gambino, que foi um estouro no mundo afora, aclamado pela mídia global, por tamanha genialidade, destreza, crítica social, metáforas, analogias, ricas referências culturais para a abordagem de temas como racismo, violência policial, massacre e tudo isso com muita qualidade sonora e visual. Visto isso, é possível tomarmos consciência entre discernir o bem do mal, ou o senso crítico do artista está acima de qualquer suspeita do senso comum?




Quando vemos um jovem Vinicius Santos, afirmar que o Trap e a cena atual salvou o Rap que estava agonizando, salta aos olhos a falta de estudo e percepção a respeito da Cultura Urbana. nascido no Rio de Janeiro e reside atualmente em Ribeirão das Neves e se autointitula como “Gangster da Rima – GDR“, além de usar o pseudônimo “Leléu das Moças”.

Vinicius fala como um especialista. Típica geração que considera Old School quem começou em 2008. Sem critério e sem respeito por todos os arquitetos da cultura que vieram antes mesmo dele ter nascido, lá em meados dos anos 80. É insignificante pra ele. O que importa é aparecer falando absurdos. Será que ele aprendeu isso com algum MC da atualidade?
Confira a mensagem de Vinicius:



O Rap antes feio, sujo e malvado salva vidas. Resgata os meninos e meninas do tráfico, da ilusão e da perdição dentro de um país violento e corrupto. O Rap na via de entretenimento não pode dar lugar para a corrupção de valores na sociedade e dentro da própria indústria. Isso sim é matar o Rap. Operacionalizar o Rap não quer dizer encaretar, mas saber que ele é uma ferramenta poderosa, que existe um legado imenso e uma responsabilidade enorme de quem porta um microfone. Nossas matérias de estreia são prova de que existe muita gente com talento e com trabalhos de qualidade na busca pelo sonho. O Hip Hop tá vivo! O Rap tá vivo sim.

E por isso nós do RAP DE FATO estamos aí resistindo e persistindo. Claro que o espaço é democrático para todos os MCs, DJs, Produtores, Graffiteiros, tanto os que buscam o hype, os que já surfam por ele, que estejam abertos a debates e questões importantes, quanto aos que buscam fazer a diferença no mundo, mas também para aquele talento que está em algum lugar do planeta, querendo uma oportunidade pra ser visto e ser lembrado por sua arte. Afinal de contas, se o paradoxo existe hoje no Rap, que não seja aqui. Aqui somos RAP DE FATO (Hip Hop e Cultura Urbana). E temos dito! UM NOVO JEITO PARA UM NOVO TEMPO.

E pra você o que é o Rap de Fato? Deixe seu comentário. Compartilhe este artigo com os amigos.






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3 Comentários

  1. Máximo respeito sempre aos PIONEIROS VELHA ESCOLA e aos NOVOS QUE FAZEM DA NOSSA Cultura NOSSA FILOSOFIA DE VIDA. MIGUELITO BLACK SOUL BROTHERS PONTO NEGRO

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