:: Dica de Som ::
Quem me conhece sabe meu fascínio pela vida e obra desse cara: John Anthony Frusciante, ou simplesmente JFrusciante. E tem música nova, que já foi lançada extra-oficialmente pelo Myspace do próprio.
Esse single foi disponibilizado em 2 de junho de 2010 e tem bem a cara do seu 1° disco solo "Niandra", só que mais sutil e, se for permitido assim dizer, mais harmônico, porém não menos orgânico... Bem bacana:
Download "Here, Air" de John Frusciante, de graça em seu Myspace!
Seguem abaixo trechos de um artigo, brilhantemente escrito por Eduardo Carli de Moraes em julho de 2005. Apesar de, ao contrário dele, eu sempre ter curtido a onda "alegrinha" dos Red Hot Chili Peppers, assim como Eduardo, ao descobrir John Frusciante (guitarrista da banda até 2009), eu caí de amores por seu universo artístico em particular e o restante da banda ficou bem mais distante pra mim..
F R U S C I A N T E.
[A Beleza Terrível]
Autor: Eduardo Carli de Moraes
Há aqueles fãs de banda que, de tão fanáticos, dão uma aprovação integral a tudo o que está relacionado ao ídolo cultuado: todos os discos, todas as fases, todos os integrantes, todas as bandas paralelas, todos os discos solos, todos os roadies, são todos "lindos, divinos, maravilhos, impecáveis"... Se o ídolo lhe entregasse um saquinho plástico com seu vômito, esse fã iria guardá-lo dentro de um santuário; a camiseta fedida a suor que o ídolo concedeu nunca mais será lavada; no dormitório, não há um único fragmento de parede sem um pôster do messias...
(...)
Pode acabar por surpreender, pois, que alguém que nunca ligou a mínima para os Red Hot Chili Peppers tenha acabado por cair de amores pela música de John Frusciante, e com um nível de devoção considerável. Mas o fato é que essa música me capturou. Hoje aperto os discos de John junto ao peito como jóias de raro valor e fico a me perguntar: como é possível que o mundo ainda não tenha descoberto que o trabalho solo do guitarrista é infinitamente melhor, mais poderoso, mais transcendental, mais profundo, mais libertador, do que aquele que faz a banda em que tocava?
(...)Conta a história que o garoto John Frusciante (nascido em Nova York, 1970) se mudou com a família para a Califórnia ainda cedo, onde se tornou fã de skate, punk rock e guitarra como tantos outros adolescentes, começando a tentar "tirar" músicas dos Germs já aos 9 anos de idade. Mais ou menos em 1989, um jovem de 17 anos de idade era conhecido nas redondezas por ser o maior fã dos Red Hot Chilli Peppers do mundo e ia a quase todos os shows com o fanatismo de um verdadeiro devoto, feliz por estar cara a cara com sua banda local predileta. Em tempo: os Peppers eram naqueles tempos apenas um pequeno combo de funk-rock regional de baixa vendagem.
Quando Hillel Slovak (o guitarrista original do Red Hot - o segundo na foto à esquerda) morreu devido a uma overdose de heroína, o comando da guitarra passou direto para esse jovenzinho de 18 anos que depois ajudaria os Red Hot Chilli Peppers, com o lançamento de Blood Sugar Sex Magik, a se tornar uma das maiores bandas do planeta. Seu nome? John Frusciante.
Alcançando o sucesso mundial em idade ainda imatura, John, por razões até hoje obscuras, abdicou da fama e do posto como guitarrista principal naquela que era na época uma das mais bem sucedidas bandas da Terra. Na turnê de Blood Sugar Sex Magik, manifestou seu desejo de abandonar o grupo e deu o fora. Sabe-se que, apesar da forte amizade que tinha e tem com o baixista Flea (com quem montou uma banda paralela, o 3 Amebas), certas animosidades entre Frusciante e o vocalista Anthony Kiedis tornavam o relacionamento interno um tanto desagradável. Mas o mais provável é que John não estivesse se sentindo bem com a fama, desejando abandonar, desiludido, a celebridade conquistada. Antes tão desejada, a fama agora se mostrava muito pouco satisfatória (situação que merece ser batizada como Dilema Kurt Cobain...).
Abandonando os shows em estádios lotados e a paparicação da mídia, deixou para Dave Navarro o comando das seis cordas dos Chilli Peppers (John, anos depois, voltaria a assumir as guitarras para gravar Californication e By The Way). Tendo chegado àquele status com que todo jovem fã de rock sonha chegar em seus delírios adolescentes - guitarrista de uma banda enorme que fascina as multidões, ganha rios de dinheiro, deixa as garotas enlouquecidas de tesão... - John Frusciante, muito estranhamente, jogou tudo fora. E foi passar uma temporada no inferno.
REZA A LENDA....
Conta-se que, deprimido e com a sanidade psíquica ameaçada, John se trancou em uma bela mansão californiana que o sucesso com os Chilli Pepers lhe permitiu comprar e entrou numa fase crítica de consumo desenfreado de junk. Entre 1993 e 1996, consumindo quantidades altamente desaconselháveis de heroína, vivendo no ócio completo, injetando gradativamente toda a sua fortuna veias adentro, John flertou perigosamente com a morte. Sua chapação, entremeada com períodos de loucura e depressão, gerou algumas obras de arte sombrias. Imaginem a cena: acompanhado por guitarras e violões, gravadores de 4 canais, pincéis e tinta, seringas e prozacs, camisetas do Velvet Underground e pôsters de Frank Zappa, John Frusciante, artista recluso e esquizofrênico, desiludido com a fama, desencantado com a vida, põe-se a vomitar pinturas basquiatianas e fragmentos de música demencial... O jovem guitarrista parecia cair definitivamente no abismo do vício e da loucura, descendo no barranco da mais completa auto-destruição, enquanto deixava atrás de si uma arte perturbadora e acabrunhante...
Não faltaram resenhas que atentavam raivosamente contra os primeiros álbuns-solo de Frusciante, Niandra Lades (And Usually Just a T-Shirt) [1995] e Smile From The Streets You Hold [1997].
Que seja: esses discos são tão "terríveis" pois neles não há lugar para nenhuma maquiagem, nenhuma auto-idealização. Frusciante se encontra nu, dilacerado, espalhado pelo chão, berrando de agonia, como um perfeito interno de hospício, e não disfarça nada de sua dor, de sua confusão, de seu desespero. E vê-lo assim é uma experiência que amedronta, que faz sentir piedade, que repele por sua excessiva sinceridade. Creio mesmo que poucos discos na história conhecida da música pop fotografam com tanta nudez um artista cujo estado mental está se estilhaçando. Nem Syd Barrett, nem Arnaldo Baptista, nem Skip Spence, nem Peter Hammill chegaram a gravar um álbum tão esquizofrêncio, tão demencial quanto Smile From The Street You Hold.
John, posteriormente, chegou até mesmo a renegar sua obra inicial e proibir a reedição desses dois discos, confessando que na época da gravação, estando ainda em meio ao redemoinho de um imperioso vício à heroína, permitiu tais lançamentos principalmente pra descolar uma graninha pra comprar junk. Mesmo assim, esses obscuros documentos de música lo-fi (mais depressiva que o mais deprê dos funerais) é um acabrunhante retrato de uma alma perdida nos recantos mais sombrios da vida. Mas, por outro lado, também mostra uma alma num processo de purgação, de purificação, de catarse, que faz suspeitar que o que poderia sair dali, do outro lado dessa experiência, poderia ser uma pessoa diferente, completamente purificada...
De qualquer modo, os dois primeiros discos-solo de John Frusciante não venderam quase nada, não receberam muita atenção de imprensa e público, e passaram um tanto despercebidos.(...) Era muito fácil concluir com precipitação que não havia ali nenhum talento. O que só faz a obra posterior de Frusciante parecer ainda mais estonteante. Pois ninguém em sã consciência julgaria que um cara que conseguiu cometer dois discos tão abomináveis, mal gravados, heterogêneos e incoerentes pudesse ter um dose suficiente de talento para criar algo meramente AUDÍVEL. Muito menos que pudesse criar alguma da música mais profunda e emocionalmente poderosa que já se ouviu.
ESTIVE NO INFERNO E RETORNEI. TRAGO BOAS NOTÍCIAS.
Tudo indica que o abandono das drogas fez um bem imenso à carreira e à arte de John. O esforço para sair do pântano do vício o impeliu para uma outra paisagem espiritual e começou a fazer jorrarem com exuberância suas fontes artísticas.
Cansado de ter seus discos xingados por serem mal-gravados, amadorísticos, toscos - e de fato eram... - se pôs a gravar Shadows Collide With People (2004), seu único álbum a protagonizar técnicas avançadas de produção e gravação, um monstruoso épico de 70 minutos de duração que, na minha opinião, é um dos melhores lançamentos da década. E, atingindo uma fase de sua vida de criatividade borbulhante, lançou nada menos que SEIS ÁLBUNS nos SEIS ÚLTIMOS MESES de 2004, numa epopéia de lançamentos das mais prolíficas de que se tem notícia na história da música pop. A façanha seria menos embasbacante se os discos fossem ruins - afinal, que adiantaria lançar meia dúzia de discos porcos por ano, ao invés de lançar um disco fodão a cada três anos? O incrível é a qualidade desses álbuns. Investindo em rock minimalista e guitarroso (em The Will To Death e Inside Of Emptyness), dilacerantes e sombrias canções semi-acústicas (em Curtains) e experimentalismo kraut-punk-velvetiano (em Automatic Writing e A Sphere in The Heart of Silence), Frusciante prova ser um artista plural no ápice de sua vida criativa, emanando boa música como se fosse um odor natural de seu corpo.
"Um voraz ouvinte musical, pintor talentoso e devoto de trágicos anjos caídos como Syd Barrett, Marc Bolan, Kurt Cobain e Sid Vicious, Frusciante é uma mistura de paixão, auto-didatismo na erudição cultural e ingenuidade, particularmente a respeito da mitologia do rock and roll", diz a Guitar Player.
(...) Talvez devido ao excessivo e duradouro uso de substâncias tóxicas, Frusciante parece agora habitar numa outra dimensão percepcional, engolindo e processando o mundo mais ou menos à maneira dos esquizofrênicos, dos místicos ou dos iluminados. Suas letras, por vezes mais críticas que os mais rebuscados textos do misticismo oriental, deixam claro que a viagem espiritual de John atinge estranhos reinos. Poucos artistas utilizam tanto as palavras "life" e "death" em suas letras; a presença abundante dessas duas palavrinhas na poética de Frusciante demonstra que está aí seu principal interesse: a vida, a morte, a dor, a redenção, o céu, o inferno, a condição humana.
(...) E, quanto ao seu talento como instrumentista, fica claro que o principal não está nos dedos: é a MENTE de John Frusciante, a maneira como ela funciona e percebe, que realmente fascina e que faz toda a diferença. E não é justamente essa uma das principais funções da arte: permitir que tenhamos um vislumbre do que é a vida quando percebida por uma mente diversa da nossa?
(...) Estamos frente a frente com um homem que olhou de cara para o abismo, que por muito pouco não despencou no nada, que encarou a morte e a auto-destruição de frente, que passou por mil delírios e por mil sofrimentos, e que ainda conseguiu se erguer das cinzas. E mais: ergueu-se não como alguém mutilado, mas como alguém fortalecido, como alguém que vive a vida indo sempre direto ao essencial, como alguém que faz arte nas profundezas com uma sinceridade tão gigantesca que chega a desconcertar. Pois exibe com muita crueza como nossas vidas são falsas e pouco autênticas. Num mundo tão dominado pelo cinismo, pela ironia e pelas máscaras sorridentes, John Frusciante tem a coragem para se mostrar sincero, ingênuo, dilacerado, humano.
É muito fácil acusar sua música de ser "muito depressiva" ou "muito negativa" e virar o rosto, fechar o ouvido, como se faz tão costumeiramente frente às verdades da existência e frente aos existentes mais verdadeiros... Abrir-se a essa arte exige uma certa coragem pois o que nela se concentra é uma dose muito alta de autenticidade, que nossas mentes muito acostumadas ao clichê talvez não aguentem (...) Frusciante canta e toca como se o mundo estivesse para acabar no próximo instante, como se estivesse numa corda bamba, suplicando (...) Eis uma arte que vive, respira, se alimenta da presença da morte. Uma arte que é pura purgação da angústia, berro de agonia, calafrio de incompreensão. Uma arte feita por um discípulo do abismo, que injeta em nossos ouvidos e em nossas vidas, tão acostumadas à banalidade, alguns sentimentos de intensidade fortíssima. Uma arte de uma beleza terrível, terrivelmente bela...
(Eduardo Carli de Moraes)
SONORIDADE
"A música é um poder que existe no universo, que nasce através de nossas mãos ou instrumentos musicais. Ela não sairá de seu cérebro." (John Frusciante)
Segundo o site Wikipedia, o trabalho de John Frusciante é reconhecido pela revista americana Rolling Stone, que lhe concedeu o 18º lugar da lista dos "100 Melhores Guitarristas de Sempre" e em 2009 também foi reconhecido como o melhor guitarrista das últimos 3 décadas (1980-2010) em uma votação popular no site da rádio britânica BBC. John Frusciante também mantêm uma carreira solo, tendo lançado dez álbuns sob o seu próprio nome, além disso realizou duas colaborações com Josh Klinghoffer (atual guitarrista substituto de JFrusciante na banda RHCP) e Joe Lally, sob o nome de Ataxia. Os seus álbuns solo incorporam uma variedade de elementos desde o rock experimental, música ambiente até ao New Wave e electrónica. Retirando influência de guitarristas de vários gêneros, Frusciante enfatiza a melodia e a emoção quando toca guitarra favorecendo guitarras antigas e técnicas análogas de gravação.
DOWNLOAD
1994 - Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt
1997 - Estrus EP
1997 - Smile From The Streets You Hold
2001 - To Record Only Water for Ten Days
2001 - Internet Álbum Release (chamado de "From the Sounds Inside" pelos fãs)
2001 - The Brown Bunny (Trilha sonora)
2004 - Shadows Collide With People
2004 - Shadows Collide with People (Acoustic versions)
2004 - Ataxia - Automatic Writing
2004 - The Will To Death
2004 - The DC EP
2004 - Inside Of Emptiness
2004 - A Sphere In the Heart of Silence
2005 - Curtains
2007 - ATP Festival
2009 - The Empyrean
Como Guitarrista do Ataxia
2004 - Automatic Writing
2007 - Automatic Writing II
Como Guitarrista do Red Hot Chili Peppers
1989 - Mother's Milk
1991 - Blood Sugar Sex Magik
1999 - Californication
2002 - By The Way
2006 - Stadium Arcadium
Outras Participações
DOWNLOAD
Johnny Cash - American IV: The Man Comes Around
Banyan - Anytime at All
24 Hour Party People (Filme)
Warpaint - Exquisite Corpse EP
Dave Gahan - Hourglass
Satellite Party - Ultra Payloaded
Glenn Hughes - Music For The Divine
The Mars Volta - De-Loused in the Comatorium
Ziggy Marley - Dragonfly
Anjos da Noite (Filme)
Omar Rodriguez-Lopez - A Manual Dexterity
The Brown Bunny By Vincent Gallo (Filme)
The Mars Volta - Frances The Mute
N.A.S.A. - The Spirit Of Apollo
:: Contato ::
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